sábado, 24 de julho de 2010

RAINHA ELIZABETH I


Isabel I (Greenwich, 7 de setembro de 1533 — Richmond, 24 de março de 1603), também conhecida sob a variante Elisabete I ou Elizabeth I, foi Rainha da Inglaterra e da Irlanda desde 1558 até à sua morte. Também ficou conhecida pelos nomes de A Rainha Virgem, Gloriana e Boa Rainha Bess.

Seu reinado é conhecido por Período Elisabeteano (ou Isabelino) ou ainda Era Dourada. Foi um período de ascensão, marcado pelos primeiros passos na fundação daquilo que seria o Império Britânico, e pela produção artística crescente, principalmente na dramaturgia, que rendeu nomes como Christopher Marlowe e William Shakespeare. No campo da navegação, o capitão Francis Drake foi o primeiro inglês a dar a volta ao mundo, enquanto na área do pensamento Francis Bacon pregou suas ideias políticas e filosóficas. As mudanças se estendiam à América do Norte, onde se deram as primeiras tentativas de colonização, que resultaram em geral em fracassos.[1]

Isabel era uma monarca temperamental e muito decidida. Esta última característica vista com impaciência por seus conselheiros, frequentemente a manteve longe de desavenças políticas. Assim como seu pai, Henrique VIII, Isabel gostava de escrever, tanto prosa quanto poesia.

Seu reinado foi marcado pela prudência na concessão de honrarias e títulos. Somente oito títulos maiores: um de conde e sete de barão no reino da Inglaterra, mais um baronato na Irlanda, foram criados durante o reino de Isabel. Isabel também reduziu substancialmente o número de conselheiros privados, de trinta e nove para dezanove. Mais tarde, passaram a ser apenas catorze conselheiros.

A colónia inglesa da Virgínia (futuro estado americano, após a independência dos EUA), recebeu esse nome em homenagem a Isabel I.

Isabel era a única filha viva do rei Henrique VIII com sua segunda esposa, Ana Bolena, marquesa de Pembroke, com quem casou secretamente, estima-se, entre o inverno de 1532 e janeiro do ano seguinte. Nasceu no palácio de Greenwich a 7 de setembro de 1533. Henrique preferiria um filho homem para assegurar a sucessão da Casa de Tudor, mas no momento de seu nascimento, Isabel era a presumida herdeira ao trono da Escorrida. Depois da rainha Ana não ter gerado um herdeiro masculino, Henrique mandou que fosse executada, sob a falsa acusação de traição (a prática de adultério contra o rei era considerada traição), de incesto com seu irmão mais velho e de bruxaria. Isabel tinha então três anos de idade e foi declarada ilegítima, perdendo o título de princesa. Depois disso foi nomeada, simplesmente, como lady Isabel e viveu no exílio, enquanto seu pai casava e se divorciava de várias outras mulheres. A última esposa do rei, Catarina Parr, insistiu na reconciliação entre os dois, e Isabel, junto com sua meio-irmã Maria, filha de Catarina de Aragão, foi restabelecida na linha de sucessão depois do príncipe Eduardo.
A primeira tutora de Isabel foi lady Bryan, uma baronesa que Isabel chamava de "Muggie". Com quatro anos, a tutora da princesa passou a ser Catarina Chapernowne. Chapernowne desenvolveu um relacionamento próximo com Isabel e permaneceu sua confidente e amiga pelo resto da vida. Tinha sido indicada pela própria Ana Bolena antes de esta ser executada. Matthew Parker, o confessor de sua mãe, mantinha um especial interesse pelo bem-estar de Isabel, principalmente depois de Ana, já temendo pela morte, lhe confiar a paz espiritual da sua filha. Mais tarde, Parker se tornaria o primeiro Arcebispo da Cantuária a assumir o cargo depois da coroação de Isabel.

Henrique VIII morreu em 1547 e foi sucedido por Eduardo VI. Catherine Parr casou-se com Thomas Seymour e levou Isabel para sua casa. Seria aí que Isabel receberia a sua instrução formal. Dedicada, aprendeu a falar ou ler em seis idiomas: a língua do seu país, o inglês, francês, italiano, espanhol, grego e latim. Sob a influência de lady Parr e de seu professor Roger Ascham, converteu-se ao protestantismo.

Em 1553, Eduardo morria com quinze anos, deixando um testamento que substituía o de seu pai. Contrariando o Ato da Sucessão de 1544, o documento excluía Maria e Isabel da sucessão ao trono e declarava lady Jane Grey sua herdeira. Lady Jane ascendeu ao trono, mas foi deposta menos de duas semanas depois. Apoiada pelo povo, Maria entrou triunfante em Londres, com a meio-irmã Isabel a seu lado.

Maria, depois de consolidar um casamento com o príncipe espanhol Filipe, futuro rei Filipe II de Espanha, passou a temer uma possível deposição e substituição por Isabel. A Rebelião de Wyatt em 1554 procurou impedir que Maria se casasse com Filipe. A rebelião foi reprimida e Isabel foi aprisionada na Torre de Londres. O espanhol exigiu a execução de Isabel, mas poucos ingleses teriam interesse na execução de um membro da tão popular dinastia de Tudor. Jane Grey, no entanto, foi decapitada nessa ocasião. Maria tentou remover Isabel da linha de sucessão, mas o parlamento não permitiu. Após dois meses na torre, Isabel foi posta em prisão domiciliar sob a guarda de Sir Henry Bedingfield. No fim desse mesmo ano, quando Maria pensava estar grávida, foi permitido a Isabel retornar à corte com o consentimento do próprio Filipe, já que este se preocupava com a possibilidade de que, em decorrência da morte da sua esposa durante o parto, esta fosse sucedida por Maria Stuart, que acabou por se tornar rainha da Escócia. Durante o tempo restante do seu reinado, Maria I (que era católica fervorosa) perseguiu os protestantes implacavelmente. Tentaram converter Isabel, que fingiu ser católica, mantendo, na realidade, suas crenças protestantes.

Em 1558, quando da morte de Maria I, Isabel ascendeu ao trono. Era muito mais popular do que sua irmã. Diz-se que quando se soube da morte de Maria, várias pessoas saíram às ruas para comemorar.

Isabel foi coroada em 15 de Janeiro de 1559. Não havia um arcebispo da Cantuária na época para presidir a cerimónia. O último católico a ocupar o posto foi o cardeal Reginald Pole, que morreu poucas horas depois da rainha Maria. Como os principais bispos declinaram em participar na coroação (porque Isabel era filha ilegítima tanto sob a lei canónica quanto pela estatutária, além de ser protestante), foi Owen Oglethorpe, um bispo de menor importância, de Carlisle, quem a coroou. Já a comunhão não foi celebrada por Oglethorpe, mas pelo capelão pessoal da rainha, para evitar o uso dos ritos católicos. A coroação de Isabel I foi a última em que o latim foi usado durante a celebração, passando as celebrações posteriores a ser em inglês. Mais tarde, Isabel conseguiu convencer o capelão da sua mãe, o já citado Matthew Parker, a tornar-se arcebispo. Este aceitou, somente por lealdade e honra à memória da mãe da rainha, visto que considerava particularmente complicado servir a Isabel.

Um dos assuntos mais importantes durante o início do reinado de Isabel foi de matéria religiosa. O primeiro homem escolhido para tratar da questão foi sir William Cecil. O Ato da Uniformidade de 1559 requeria o uso do Livro de Oração Comum dos protestantes em serviços de igreja. O controle papal sobre a igreja da Inglaterra tinha sido restabelecido sob Maria I, mas foi anulado por Isabel. A própria rainha assumiu o título de "Suprema Governante da Igreja Anglicana", em vez de "Cabeça Suprema", já que diversos bispos e outras figuras públicas consideravam que o título era impróprio para uma mulher. O Ato de Supremacia 1559 obrigava os oficiais públicos a fazer um juramento que reconhecia o controle da Soberana sobre a igreja, cuja quebra recebia punições severas.
Muitos bispos estavam insatisfeitos com a política religiosa elizabeteana. Estes foram removidos da cadeira eclesiástica e substituídos por nomeados que mostravam maior subserviência em relação à supremacia da rainha. Apontou também um conselho privado inteiramente renovado, removendo muitos conselheiros católicos no processo. Sob o comando de Isabel, o facionalismo no conselho e nos conflitos da corte diminuiu bastante. Os conselheiros principais de Isabel eram sir William Cecil (lorde Burghley), secretário de estado, e Sir Nicholas Bacon, Lorde Guardião do Grande Selo. Entre os seus leais conselheiros e secretários, um se tornou notório por ter criado o primeiro serviço de espionagem da Inglaterra: sir Francis Walsingham era secretário de negócios internos e chefe do serviço de espionagem.

Isabel reduziu a influência da Espanha sobre a Inglaterra. Embora Filipe II a tivesse ajudado a terminar as Guerras Italianas com a paz de Cateau-Cambrésis, Isabel permaneceu diplomaticamente independente. Adotou o princípio "Inglaterra para os ingleses". Seu outro reino, a Irlanda, nunca se beneficiou de tal filosofia. A implantação de costumes ingleses na Irlanda mostrou-se impopular entre os seus habitantes, bem como a política religiosa da rainha.

Logo após sua ascensão, muitos se questionaram sobre possíveis laços matrimoniais para Isabel. A razão para nunca ter se casado é imprecisa. Pode ter sentido repulsa, motivada pelos maus tratos que as esposas de Henrique VIII haviam recebido. Outra hipótese é de que tenha sido afetada psicologicamente pela suposta relação que teria tido com lorde Seymour durante sua infância. Boatos da época imputavam-lhe um defeito físico que estava receosa de revelar: talvez marcas deixadas por varíola. É também possível que Isabel não desejasse compartilhar o poder da coroa ou que, dada a situação política instável, temesse a luta contra rebeliões apoiadas por facções aristocráticas, no caso de estabelecimento de matrimônio com algum representante de alguma dessas facções. A única coisa que se sabe com certeza é que o casamento ser-lhe-ia particularmente dispendioso e custar-lhe-ia também alguma independência, já que todas as propriedades e rendas de Isabel herdadas de seu pai seriam suas somente enquanto fosse solteira.

Também é lógico entender que só tinha duas opções, ambas más: ou desposava um estrangeiro, e neste caso corria o risco de perder não apenas a independência pessoal, mas também a de seu reino, como vira suceder com sua irmã, que fizera da Inglaterra um apêndice dos interesses espanhóis; ou se casava com um súbdito, e neste caso elevava uma família de súbditos à condição de dinastia. Manter-se solteira, dizer que "tinha desposado o seu País", foi uma sábia política que lhe garantiu boas condições de governo, além de popularidade (embora nos primeiros anos do reinado a pressão fosse grande para ela contrair matrimônio), mas ao preço de não ter um sucessor de seu corpo. Na verdade, Isabel reluta até o fim em definir quem herdará o trono. Aparentemente, sua menção mais clara à sua escolha é, no leito de morte, quando diz que "somente um rei poderá herdar o trono" que é seu, numa alusão inequívoca a Jaime VI da Escócia, que lhe sucederá como Jaime I da Inglaterra - e marcará o final da dinastia Tudor e o início da Stuart.

CONFLITOS CONTRA A FRANÇA E A ESCÓCIA
A rainha encontrou uma rival perigosa em sua prima, a católica Maria Stuart, rainha da Escócia e esposa do rei francês Francisco II. Em 1559, Maria Stuart declarara-se rainha da Inglaterra, apoiada pela França. Na Escócia, a mãe de Maria Stuart, Maria de Guise, tentou aumentar a influência dos franceses na Grã-Bretanha permitindo a construção de fortificações do exército francês em território escocês. Um grupo de senhores escoceses aliados de Isabel conseguiu depor Maria de Guise. Sob pressão inglesa, os representantes de Maria assinaram o tratado de Edimburgo, que ordenava que as tropas francesas se retirassem da Escócia. Embora Maria recusasse veementemente ratificar o tratado, este teve o efeito desejado, e a ameaça representada pela França foi removida da Grã-Bretanha.

Quando seu marido morreu, Maria Stuart retornou à Escócia. Enquanto isso, na França, a perseguição católica aos huguenotes deflagrou as Guerras Religiosas Francesas. Isabel, secretamente auxiliou os huguenotes. Fez a paz com a França em 1564, desistindo de reivindicar a última possessão inglesa na França continental, Calais, após a derrota de uma expedição inglesa em Le Havre. Isabel, entretanto, não abriu mão da sua reivindicação à Coroa Francesa, que tinha sido mantida desde o reino de Eduardo III durante a Guerra dos Cem Anos (século XIV). Tal pretensão foi apenas renunciada pelos monarcas britânicos no reinado Jorge III no século XVIII.

CRISES
No final de 1562, Isabel contraiu varíola, mas sobreviveu. Em 1563, alarmado pela doença quase-fatal da rainha, o Parlamento exigiu que ela se casasse ou nomeasse um herdeiro para impedir a guerra civil caso viesse a morrer. Ela recusou-se a fazer ambas as coisas, e em abril, colocou o Parlamento em recesso, como era sua prerrogativa. O Parlamento não pôde, portanto voltar ao assunto até Isabel precisar do seu consentimento para aumentar os impostos, em 1566. A Câmara dos Comuns ameaçou reter fundos até que a rainha concordasse em indicar um sucessor, mas ela recusou-se novamente.
Diferentes linhas de sucessão foram consideradas durante o reinado de Isabel. Uma linha possível era a de Margarida Tudor, irmã mais velha de Henrique VIII, que passava por Maria I da Escócia (Maria Stuart). A outra alternativa provável descendia de uma irmã mais nova de Henrique, Maria Tudor, duquesa de Suffolk; nesse caso, a próxima rainha seria lady Catherine Grey, irmã de Jane Grey. Uma possibilidade ainda mais remota seria a ascensão de Henry Hastings, o conde de Huntingdon, que poderia reivindicar sua descendência de Eduardo III (século XV). Cada herdeiro possível tinha alguma desvantagem: Maria I era católica, lady Grey casara-se sem o consentimento da rainha e Lorde Huntingdon, que era puritano, nem sequer tinha quaisquer pretensões de aceitar a coroa.

Maria Stuart sofria com seus próprios problemas na Escócia. Isabel tinha sugerido que se casasse com o protestante Robert Dudley, primeiro conde de Leicester, como tentativa de influenciar a linha de sucessão da Escócia. Leicester, na verdade, teria sido amante da própria Isabel. Maria Stuart recusou e, em 1565, casou com o católico Henry Stuart, Lorde' Darnley. Este, porém, foi assassinado em 1567, depois de o casal já ter passado por várias brigas e disputas entre si. Maria, em seguida, casou-se com o suposto assassino do próprio marido, James Hepburn, conde de Bothwell. Os nobres escoceses se rebelaram, aprisionando Maria e forçando-a a abdicar em favor de seu filho, que assumiu com o nome de Jaime VI.

Em 1568 morreu Catherine Grey, a última herdeira viável ao trono inglês. Deixou um filho, mas foi considerado ilegítimo. Sua herdeira era sua irmã, lady Maria Grey. Isabel foi forçada novamente a considerar um sucessor escocês, da linha da irmã do seu pai, Margarida Tudor. No entanto Maria I (Maria Stuart), era impopular na Escócia, onde continuava aprisionada. Mais tarde, escapou de sua prisão e fugiu para Inglaterra, onde foi capturada por forças inglesas. Isabel se viu perante um dilema: enviá-la aos nobres escoceses seria considerado cruel demais; enviá-la à França torná-la-ia um trunfo poderoso nas mãos do rei francês; restaurar-lhe o trono da Escócia poderia ser visto como um gesto heróico, mas causaria grande tensão entre os escoceses; aprisioná-la na Inglaterra permitiria a participação directa de Maria em conjuras contra a rainha. Isabel escolheu esta última opção: Maria foi confinada por dezoito anos, a maior parte deles no castelo e mansão de Sheffield, sob custódia de George Talbot. Embora a peça de Schiller, Maria Stuart, traduzida ao português pelo poeta Manuel Bandeira, tenha um de seus momentos altos no dramático confronto das duas rainhas após quase dezoito anos de reclusão da escocesa, a verdade é que nunca se encontraram.

Em 1569, Isabel enfrentou um grande levante conhecido como a rebelião do Norte, instigada por Thomas Howard (duque de Norfolk), Charles Neville (conde de Westmorland) e Thomas Percy, (conde de Northumberland). O papa Pio V apoiou a rebelião católica excomungando Isabel e declarando-a deposta em uma bula papal. A bula da deposição, Regnans in Excelsis, foi emitida somente em 1570, quando a rebelião já tinha sido derrotada. Entretanto, depois deste ato pontifício, a política de Isabel de tolerância religiosa se tornou impraticável. Passou a perseguir seus inimigos religiosos, o que levou ao surgimento de novas conspirações católicas para removê-la do trono. Na verdade, porém, padres católicos eram tolerados, ao passo que os sacerdotes jesuítas, e somente eles, eram executados com a crueldade usual da época.

O inimigo seguinte a enfrentar Isabel foi seu antigo cunhado, Filipe II, rei da Espanha. Depois de Filipe ter lançado um ataque da surpresa aos navios corsários dos capitães Francis Drake e John Hawkins em 1568, Isabel requisitou a captura de um navio do tesouro espanhol em 1569. A atenção da Espanha já estava voltada para a Holanda onde tentava debelar uma rebelião e não tinha recursos disponíveis para declarar uma guerra contra a Inglaterra.

Filipe II participou de mais de uma conspiração para destronar Isabel, ainda que de forma relutante nalguns casos. O quarto duque de Norfolk se envolveu também no primeiro destes complôs: a Conspiração de Ridolfi de 1571. Depois desta conspiração católica ter sido descoberta e frustrada, o duque de Norfolk foi executado e Maria Stuart perdeu a pouca liberdade que lhe restava. A Espanha, que vinha estabelecendo relações cordiais com Inglaterra desde a união de Filipe à antecessora de Isabel, passou a mostrar-se hostil.

Em 1571, Sir William Cecil tornou-se barão de Burghley e em 1572 foi elevado à importante posição de tesoureiro-mor. Seu posto como secretário de estado foi ocupado pelo chefe da rede de espionagem de Isabel, Sir Francis Walsingham.

Também em 1572, Isabel fez uma aliança com a França. O Massacre da noite de São Bartolomeu, em que milhares de protestantes franceses foram mortos, fragilizou a aliança, mas não a quebrou. Isabel até mesmo começou negociações sobre uma união com Henrique, duque de Anjou (e depois rei Henrique III de França e Polónia). Mais tarde, negociou outro casamento com o irmão mais novo de Henrique, François, duque de Anjou e de Alençon. Conta-se que durante uma viagem posterior a França em 1581, Isabel "retirou um anel de seu dedo e o pôs na mão do duque de Anjou, como indicativo de determinadas condições existentes entre os dois". O embaixador espanhol relatou que ela realmente tinha declarado que o duque de Anjou seria seu marido. Entretanto, Anjou, que diziam ser homossexual, retornou a França e morreu em 1584 antes que pudesse se casar.

GUERRA CONTRA ESPANHA
Em 1580, o papa Gregório XIII enviou forças para ajudar as rebeliões de Desmond na Irlanda que, no entanto, falharam. A rebelião foi dada como terminada em 1583. Enquanto isso Portugal e Espanha formavam a União Ibérica, assim Filipe II de Espanha, I de Portugal, junto com o trono português, recebeu o comando de alto-mar. Após o assassinato do estadista holandês William I, a Inglaterra começou a apoiar abertamente as Províncias Unidas dos Países Baixos, que se rebelavam na época contra o domínio espanhol. Esta situação, em conjunto com o conflito económico com a Espanha e a pirataria inglesa contra colónias espanholas, conduziu à deflagração da guerra Anglo-Espanhola em 1585. Em 1586 o embaixador espanhol foi expulso da Inglaterra por sua participação em conspirações contra Elizabeth. Temendo tais conspirações, o parlamento promulgou o Ato da Associação de 1584, que ditava que qualquer associado numa conjura para assassinar o soberano seria imediatamente excluído da linha de sucessão. A despeito do Ato, uma tentativa posterior de golpe contra Isabel tomou forma e ficou conhecida como a Conspiração de Babington. A conspiração foi descoberta por Sir Francis Walsingham, responsável pela rede de espiões inglesa. Maria Stuart a Rainha da Escócia foi acusada de cumplicidade e foi executada no castelo de Fotheringhay em 8 de fevereiro de 1587.

Em seu testamento, Maria deixou para Filipe sua reivindicação ao trono inglês. Filipe começou então a planear uma invasão. Em abril de 1587, Sir Francis Drake queimou a frota espanhola em Cádiz, retardando os planos espanhóis. Em julho de 1588, a Armada Espanhola, uma grande frota de 130 navios carregando cerca de 30 000 homens, lançou velas na esperança de ajudar o exército espanhol, sob o comando do duque de Parma e que estava na Holanda, a atravessar o canal da Mancha e começar a invasão. Elizabeth tentou incentivar suas tropas com um discurso notável: o discurso às tropas em Tilbury onde ficou famosa a frase: "sei que tenho o corpo de uma mulher fraca e frágil; mas tenho também o coração e o estômago de um rei - e de um rei de Inglaterra!".

O ataque espanhol foi repelido pela frota inglesa, comandada por Charles Howard e por Sir Francis Drake, ajudados pelo mau-tempo no dia da batalha. A Invencível Armada foi forçada a retornar a Espanha. A popularidade de Isabel aumentou de forma extraordinária com a vitória. A batalha, entretanto, não foi decisiva, e a guerra com a Espanha continuou. A guerra foi travada também nos Países Baixos, que continuaram a lutar pela independência, e na França, onde um protestante, Henrique IV, reivindicou o trono. Isabel enviou 20 000 homens e subsídios de £300 000 para apoiar Henrique IV, além de 8 000 tropas e subsídios de £1 000 000 para os holandeses. Mesmo depois de Henrique quebrar sua promessa e se converter ao catolicismo, Isabel permaneceu ao seu lado.

Os navios corsários ingleses continuaram atacando navios do tesouro espanhóis vindos das Américas. Os corsários mais famosos foram o Sir John Hawkins e Sir Martin Frobisher. Em 1595 e em 1596, uma expedição desastrosa levou às mortes tanto de John Hawkins quanto de Francis Drake. Também em 1595, uma força espanhola desembarcou na Cornualha. Depois de queimarem algumas vilas e saquear suprimentos, retornaram a Espanha.

Em 1596, a Inglaterra se retirou por fim da França, com Henrique IV já plenamente estabelecido no trono, depois de desfeita a liga católica que a ele se tinha oposto. Isabel enviou 2 000 tropas adicionais para França depois da tomada espanhola de Calais. A Inglaterra tentou atacar os Açores em 1597, mas falhou. Algumas batalhas ainda ocorreram até 1598, quando França e Espanha fizeram finalmente as pazes. A guerra Anglo-Espanhola entrou num impasse depois da morte de Filipe II naquele ano. Em parte por causa da guerra, as tentativas ultramarinas de colonização, por parte de Raleigh e de Gilbert falharam, e os assentamentos norte-americanos se estagnaram até Jaime I negociar a paz no tratado de Londres (1604).


O FIM DA VIDA
Em 1598, o principal conselheiro de Isabel, Lorde Burghley, morreu. O seu cargo político foi então herdado por seu filho, Robert Cecil, que já ocupava a secretaria de estado desde 1590. Isabel tornou-se um tanto impopular por causa de sua prática de conceder monopólios reais, o que motivava constantes reclamações por parte do parlamento. Em seu famoso "Discurso Dourado", Isabel prometeu reformas. Logo depois, doze monopólios reais foram extintos por decreto real. Mas estas reformas foram superficiais e a prática de obter fundos das concessões de monopólios continuou.

Ao mesmo tempo em que enfrentava a Espanha, a Inglaterra enfrentou também uma rebelião na Irlanda, conhecida como Guerra dos Nove anos. Hugh O'Neill, conde de Tyrone, proclamara-se rei, pelo que foi declarado um traidor em 1595. Na tentativa de evitar duas guerras, Isabel fez uma trégua com Tyrone, que imediatamente procurou auxílio junto do rei espanhol. A Espanha tentou enviar duas armadas para a Irlanda, mas ambas as expedições falharam. Em 1598, Tyrone ofereceu uma trégua. Depois dessa trégua expirar, os ingleses enfrentaram sua pior derrota, durante a rebelião irlandesa na batalha de Yellow Ford.

Um dos principais membros da marinha, Robert Devereux, 2º Conde de Essex, foi nomeado Lorde-tenente da Irlanda e foi incumbido de esmagar a rebelião irlandesa, em 1599. Falhou completamente e retornou a Inglaterra sem a permissão da rainha em 1600, sendo punido por isso com a perda de todos os seus cargos políticos. Um ano depois, conduziria uma revolta contra a rainha e acabou sendo executado. Essex, enteado do já falecido conde de Leicester, teria sido amante da rainha - e se não foi, houve pelo menos amor dela por ele; mandar executá-lo foi extremamente duro para a velha monarca.

Charles Blount, barão de Mountjoy foi, então, enviado à Irlanda para substituir o conde de Essex. Lorde Mountjoy tentou bloquear as tropas de Tyrone e submetê-las pela fome. Nesse momento, a Espanha enviou 3 000 tropas para ajudar os irlandeses. A coroa espanhola justificava a intervenção lembrando que Isabel anteriormente tinha ajudado a rebelião holandesa contra a Espanha. Mountjoy derrotou as tropas espanholas e irlandesas na batalha de Kinsale. O Conde de Tyrone rendeu-se alguns dias depois da morte de Isabel.
Isabel I adoeceu em fevereiro de 1603, sofrendo de fraquezas e insónia. Morreu em 24 de março no palácio de Richmond. Com sessenta e nove anos de idade, foi a mais longeva monarca a governar a Inglaterra até sua época. Sua marca só foi superada quando Jorge II morreu com setenta e sete anos em 1760. Isabel foi enterrada na abadia de Westminster, ao lado de sua irmã Maria I. O epitáfio de seu túmulo é a inscrição latina "Parceiras no trono e na sepultura, descansamos aqui duas irmãs, Isabel e Maria, na esperança de uma ressurreição".

O testamento deixado por Henrique VIII declarava que Isabel devia ser sucedida pelos descendentes de sua irmã mais velha, Maria Tudor, duquesa do Suffolk, em detrimento dos descendentes escoceses de sua irmã mais velha, Maria Tudor. Se sua vontade fosse atendida, Isabel seria sucedida então por lady Anne Stanley. Se, entretanto, as regras da primogenitura masculina prevalecessem, o sucessor seria Jaime VI, rei de Escócia. Outros nobres podiam ainda reivindicar o trono. Incluíam-se entre estes o Sr. Edward Seymour, barão de Beauchamp (filho ilegítimo de lady Catherine Grey) e William Stanley, conde de Derby (tio de Anne Stanley).

Algumas fontes históricas referem que Isabel nomeou Jaime seu herdeiro em seu leito de morte. De acordo com uma história duvidosa, quando questionada sobre quem nomearia como herdeiro, Isabel teria respondido, "quem poderia ser além de meu primo da Escócia?". De acordo com outra, disse, "quem além de um rei poderia suceder uma rainha?". Finalmente, uma terceira lenda sugere que permaneceu em silêncio até sua morte. Não há nenhuma evidência para provar qualquer desses episódios. Em todo caso, nenhum dos herdeiros alternativos reivindicou trono. Jaime VI, o único sucessor viável, foi proclamado rei de Inglaterra com o nome de Jaime I algumas horas após a morte de Isabel. A proclamação de Jaime I abriu um precedente histórico porque foi feita, não pelo próprio monarca, mas por um Conselho de Ascensão, já que Jaime se encontrava na Escócia. Os conselhos de ascensão e não os novos monarcas continuam a fazer a proclamação dos reis na prática moderna.

Isabel provou ser um dos monarcas mais populares da história da Inglaterra. Ela ocupou o sétimo lugar na lista dos Cem Maiores Britânicos, que foi organizada pela BBC em 2002, superando todos os outros monarcas que apareceram no ranking.

Já os historiadores em geral parecem não admirar tanto o reinado de Isabel. Embora durante este período a Inglaterra tenha obtido muitas vitórias militares, Isabel foi uma figura bem menos central do que outros monarcas como, por exemplo, Henrique V. Isabel foi criticada também por apoiar o tráfico de escravos na Inglaterra. Seus problemas com a Irlanda servem também para manchar seus registros.

Por outro lado, Isabel foi uma rainha bem sucedida, ajudando firmemente a nação, mesmo herdando um enorme débito nacional de sua irmã Maria. Sob o seu comando, a Inglaterra evitou uma invasão espanhola. Isabel também conseguiu impedir a deflagração de uma guerra religiosa ou civil no solo inglês. Suas realizações, entretanto, foram exageradamente louvadas após sua morte. Foi descrita alguns anos mais tarde como uma grande defensora do Protestantismo na Europa quando, na realidade, hesitava frequentemente antes de vir em auxílio de seus aliados protestantes. Como sir Walter Raleigh disse em relação à sua política estrangeira, "sua Majestade fez tudo pela metade".

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