sábado, 9 de outubro de 2010

AS ARTES PLÁSTICAS NA GRÉCIA ANTIGA

A principal característica das artes plásticas gregas está no fato de serem essencialmente públicas, pois era o Estado que patrocinava as obras como fontes, praças, templos, etc. Mesmo quando encomendadas por particulares, eram frequentemente expostas em locais públicos. Nas artes plásticas, evidencia-se a combinação do naturalismo (detalhes dos corpos, como, por exemplo, o vigor dos músculos) com a severidade e a regularidade do estilo.


ESCULTURA
Escultura da Grécia antiga é uma expressão de significado amplo, que a rigor poderia ser empregada para designar a produção escultórica desde a Pré-história até a Idade Média, mas que usualmente se refere às obras criadas na Grécia entre o período Dedálico (c.650-600 a.C.), quando a arte grega começou a formar um estilo próprio original, e a época do seu último florescimento importante na chamada era Helenística, que durou até cerca de 100 a.C., quando o país já estava sob domínio romano.

A escultura é uma das mais importantes expressões artísticas da cultura grega. Exerceu decisiva influência sobre a arte romana, inseminou uma grande variedade de culturas do norte da África, do Oriente Próximo e Oriente Médio, penetrou até a Índia durante a época de Alexandre, o Grande, definiu muitos dos principais parâmetros da arte da Renascença e do Neoclassicismo, e é uma referência das mais relevantes mesmo nos dias de hoje para toda a cultura do Ocidente.


Estatueta de guerreiro do século VIII a.C., Staatliche Antikensammlungen, Munique.


As raízes da cultura grega clássica podem ser estabelecidas no Período Geométrico (c. 900 - 700 a.C.), quando diversas transformações sociais importantes levaram à formação da cidade-estado, o núcleo social urbano onde nasceu a maior parte da arte subsequente. Desenvolve-se o alfabeto grego, o comércio se intensifica com a Ásia Menor e o sul da Itália e se fundam diversos templos. Desta fase sobrevive uma variedade de artefatos, entre cerâmicas, adornos, armas e estatuetas votivas de bronze e barro, mostrando formas altamente estilizadas, evidenciando uma artesania de considerável habilidade, mas não há traços de estatuária de grande porte.

A hipótese de que a estatuária de grandes dimensões evoluiu diretamente das estatuetas votivas tem poucos defensores, já que as peças mais antigas diferem radicalmente da produção do período Dedálico e sua seqüência. É possível que alguma inspiração tenha vindo da Síria, que mantinha na época algum contato com a Grécia e havia desenvolvido uma arte estatuária significativa, e permaneceu por algum tempo como um referencial para as regiões asiáticas da Grécia. O Egito é apontado como outra influência, mais importante para a Grécia européia. Registros informam que escultores de Samos aprenderam seu ofício em oficinas egípcias. O estilo hierático, impessoal e frontal dos egípcios tem similitude com as primeiras estátuas de grande porte produzidas na Grécia durante este período, já com um estilo caracteristicamente grego, do tipo dos kouroi e das korai, o que reforça a suposição. Mesmo com estas influências prováveis, a escultura grega é em boa parte uma criação original.

Kore dedálica chamada de Dama de Auxerre, c. 635 a.C., Louvre

O Período Dedálico (c.650-600 a.C.) foi assim denominado em homenagem a Dédalo, o herói mítico que é tido como inventor da arte da escultura. As características marcantes nesta fase, que mostrou grande homogeneidade, são a rígida frontalidade, o modelado achatado do corpo e o desenho simplificado da anatomia, que é antes uma idealização do que uma observação da natureza. O rosto é esquemático em forma triangular, com testa baixa, olhos e nariz grandes, e boca inexpressiva. As orelhas podiam ser omitidas ou tinham implantação perpendicular ao crânio, e o cabelo cai em grossas madeixas. As pernas são usualmente longas e a cintura é alta e estreita.


Kore dedálica chamada de Dama de Auxerre, c. 635 a.C., LouvreNo caso das estátuas femininas (kore, plural korai), elas aparecem com longas túnicas, mas nas masculinas (kouros, plural kouroi) a nudez é a regra. Estes dois tipos permaneceriam dominantes também ao longo de toda a fase Arcaica, junto com o da mulher vestida e sentada. Nos relevos, porém, aparecem maior variedade de posições, figuras em grupos, seres mitológicos e animais. Para a representação do movimento nos relevos é adotada uma fórmula similar à usada nas pinturas de vasos do Período Geométrico, com o peito e cabeça frontalizados, mas com a parte do corpo abaixo da cintura em perfil.

Ainda que aqueles três tipos principais tenha sido todos muito comuns, o kouros, com sua anatomia completamente exposta, assumiu uma importância superlativa para o desenvolvimento da escultura, já que a sociedade grega só viria a permitir a exposição do corpo feminino desnudo em torno do século IV a.C.. O tipo do kouros se define por uma figura masculina nua, jovem e imberbe, com a perna esquerda à frente e os braços caídos rigidamente junto ao corpo, com raras variações neste padrão. A koré está sempre vestida, também é uma jovem e tem os pés juntos, e sua postura tem um pouco mais de variedade do que a sua contraparte masculina, e seus braços podem pender ou se dobrar, cruzando sobre o peito, ou se apenas um deles se move, pode estar voltado para a frente. Os kouroi não eram produzidos meramente com fins estéticos, mas eram oferendas religiosas colocadas em santuários, marcavam a tumba de alguma personalidade ou eram monumentos públicos, e não representavam pessoas individualizadas, sendo antes a corporificação de algum ideal de beleza, honra, virtude, piedade ou sacrifício.

Kouros Anavyssos, c. 530 a.C., Museu Arqueológico Nacional de Atenas

O Período Arcaico (c. 600-500 a.C.) foi definido por uma progressiva urbanização da Grécia, com o crescimento do comércio e o estabelecimento das primeiras grandes cidades com sua aristocracia enriquecida. Com isso se desenvolve também a arquitetura, e com ela a decoração escultórica monumental, e o mármore desloca a cerâmica como o material de eleição, especialmente para as obras importantes. A cultura florescia nas cortes dos tiranos, e ali se cristalizou um corpo de conceitos éticos e educativos que teriam reflexo na arte: a paideia (παιδεία), significando um processo de educação completa e integral que almejava a formação de um cidadão exemplar apto para assumir qualquer função na sociedade, inclusive o governo supremo. A paideia envolvia conceitos correlatos como a aretê (ἀρετή), um conjunto de concepções a respeito da nobreza de caráter e aptidão física e militar; a kalokagathia (καλοκαγαθία), um ideal de equilíbrio perfeito entre as virtudes físicas e morais associando beleza com bondade, e a sophrosine (σωφροσύνη), um ideal de autocontrole, disciplina e moderação.

Tais conceitos são expressos na escultura através da desenvoltura técnica recentemente conquistada pelos artífices, e se torna aparente no porte majestoso e na atitude de inabalável confiança e altivez mostrada pelos kouroi deste período. Seu desenho ainda era resumido às feições essenciais, mas sinais de uma observação mais atenta da anatomia se mostravam no progressivo detalhamento da musculatura e da estrutura subjacente do esqueleto, com um modelado com maior profundidade e uma sugestão de movimento real. No caso das jovens, as korai, observa-se uma variedade maior de atitudes e nos padrões do drapeado das vestes. A frontalidade permanece como o cânone oficial, e desvios desta regra são raros e podem ser atribuídos a necessidades específicas da peça, como a cabeça em 3/4, no caso famoso do Cavaleiro Rampin, já que a cabeça do cavalo poderia impedir a visualização adequada do rosto do cavaleiro, ou quando a figura carrega algum objeto, como no Moscóforo do mesmo museu, ou quando se trata de uma esfinge a ser vista lateralmente, quando a posição da cabeça pode ser encontrada em ângulo reto em relação ao corpo.

Neste período percebe-se uma divisão em duas tendências estilísticas, uma ainda sob influência síria, com um centro produtor principal em Samos, e outra mais apegada ao estilo egípcio, com seu centro na Ática. Começam a ser registrados alguns nomes de escultores importantes, como Aristokles de Sidônia, Kanacos de Sikyona e Hegias de Atenas, aparece o chamado sorriso arcaico nas estátuas, e o corpo humano firma-se então definitivamente como objeto e assunto principal da arte grega. Um dos tipos principais de escultura, o kouros, era sempre nu, e no período Arcaico ele era ainda mais nu do que durante a fase Dedálica, quando muitas vezes o jovem portava um cinturão. Assim, os problemas de representação anatômica não mais poderiam ser ignorados, e nota-se maior atenção à observação do natural, embora as formas ainda devessem se encaixar no esquema geral idealizado.

Por volta do fim do século VI a.C. o detalhamento nas formas corporais havia chegado a um grau avançado, o esquema da frontalidade já não se adequava ao naturalismo anatômico conquistado, e as figuras adquirem movimento, embora ainda com certa rigidez. Nos relevos o progresso é evidenciado pelo surgimento da lateralização do tronco e da cabeça, na criação de grupos de figuras em sobreposição parcial, e no modelado que adquire maior profundidade. As figuras de monstros mitológicos se tornam mais raras e nos animais é privilegiado o cavalo, e em menor grau o leão e a esfinge. Também surgem os primeiros exemplos de escultura ornamental nos edifícios, tipificada pelos grupos instalados nos frontões dos templos, sendo os mais antigos os do templo de Ártemis em Corfu. Outro exemplo monumental, já com significativo avanço na flexibilização das figuras é a Gigantomaquia criada por Endoios para o frontão do templo Arcaico dedicado a Atena erguido na Acrópole de Atenas por volta de 525 a.C.

No Período Arcaico começa a difusão da estatuária grega pelas colônias na Magna Grécia e nas áreas orientais do Mediterrâneo, influenciando as culturas estrangeiras em contato com elas, como a etrusca, a cipriota, a fenícia e mesmo a síria, que antes havia inseminado a própria Grécia. Elementos do estilo Arcaico conheceram momentos de ressurgência até mesmo durante as fases Clássica e Helenística, e na arte romana algumas escolas demonstraram um apreciável interesse pelo arcaísmo em sínteses ecléticas.

Cópia moderna do Apolo do Templo de Zeus em Olímpia. O original está no Museu Arqueológico de Olímpia

Como transição entre o Período Arcaico e o Período Clássico está a fase conhecida como Período Severo (c.500-450 a.C.) justamente pelo seu repúdio ao decorativismo. A fundação de vários templos, favorecendo a aplicação dos novos conhecimentos anatômicos na estatuária pedimental e nos relevos, e mais a ascensão da burguesia urbana, a secularização dos costumes e a introdução da democracia em Atenas, levaram ao fim a cultura aristocrática epitomizada pelos kouroi, com um resultado visível na mudança importante no estilo e na função da estatuária, que abandona a uniformidade dos kouroi votivos para representar também os atletas vencedores dos Jogos, os líderes políticos e generais, e as várias divindades.


A arte é revolucionada com a introdução de concepções novas, que a libertam de seu utilitarismo e lhe conferem certa autonomia. Com uma civilização já em pleno florescimento, os gregos já se sentiam mais seguros e livres da pressão imediata da luta pela vida e se aprofundam na filosofia. Hauser afirma que nesta fase "o conhecimento prático dá lugar ao exame livre, meios de dominar a natureza passam a ser métodos de descobrir a verdade abstrata. E assim a arte, que começou por ser um mera servidora da magia e do ritual (…), torna-se até certo ponto uma atividade pura, autônoma, desinteressada, praticada pelo seu próprio valor e pela beleza que revela.".

Em linhas gerais esta fase se caracteriza por um progressivo incremento no dinamismo das figuras, os braços ganham em liberdade, o torso se flexibiliza e há maior detalhamento e suavização da anatomia. O modelado da cabeça se harmoniza com o do corpo, os detalhes são reduzidos a um mínimo com ênfase nos traços anatômicos principais, o sorriso arcaico tende a ser substituído por uma expressão séria e distante, e aparecem representações mais verossímeis da velhice, embora ainda exista grande idealismo nas formas. Nesta fase é formulado o chamado perfil grego, unindo a testa e o nariz em uma linha retilínea, e o bronze começa a se tornar um material de uso freqüente.

Indicativo dos progressos do período é o Efebo de Kritios, dos primeiros exemplos a mostrar uma sugestão do contrapposto, um movimento nas ancas que surge quando a figura se apóia em uma das pernas enquanto a outra se encontra em repouso. O mesmo desenvolvimento formal se nota nos relevos, com crescente complexidade das cenas e das formas anatômicas. Exemplo superior desta época é o conjunto escultórico do templo de Zeus em Olímpia, realizado por um artista desconhecido chamado Mestre de Olímpia e seus auxiliares. Neste grupo decorativo são encontradas pela primeira vez na arte grega características que seriam retomadas somente na fase Helenística bem mais tardia, como o extraordinário dinamismo nas cenas e expressões emocionais intensas. Outro exemplo de grande importância são as estátuas decorativas do Templo de Afaia, em Egina, hoje preservadas na Gliptoteca de Munique. Dentre os relevos se destaca o Relevo dos jogadores de bola, de c. 510 a.C., sendo um verdadeiro compêndio de anatomia e cinesiologia, com uma série de figuras em variadas posições.


Leocarés: Apolo Belvedere, c. 350-325 a.C.

PERÍODO CLÁSSICO

Uma rápida evolução na técnica e no estilo leva ao classicismo grego (c. 450-323 a.C.), período em que se realizam as mais importantes e seminais conquistas no terreno do naturalismo, ao mesmo tempo em que perduram uma série de convenções estritas a respeito de proporções e ordem, dando origem a uma síntese sem paralelos no mundo antigo e que até hoje permanece uma referência vital para a arte e cultura de grande parte do mundo..


Leocarés: Apolo Belvedere, c. 350-325 a.C.O primeiro grande centro produtor do classicismo é Atenas, acompanhando sua hegemonia e esplendor, construindo uma sociedade democrática - para os padrões da época - e que prezava a liberdade individual, favorecendo uma arte mundana. O interesse gradualmente se desloca do geral para o particular, do simples para o exuberante, e a representação anatômica chega a um estágio de grande verossimilhança, com maior estudo da musculatura do tronco e membros em detrimento da face, que perde em expressividade embora ganhe em semelhança e detalhamento, surgindo os primeiros retratos. Os panejamentos e mantos das vestes recebem atenção especial e adquirem variedade como complementos formais importantes para a figura humana, as posições são muito variadas, e as esculturas abandonam definitivamente a frontalidade para receberem acabamento por igual em todas as suas partes, de forma a poderem ser apreciadas de todos os ângulos.

Também começam a ser registradas as atividades de artistas que formariam importantes escolas e estabeleceriam padrões de proporções ainda empregados atualmente. O primeiro autor notável, vencendo definitivamente a rigidez reminiscente do período Arcaico, foi Míron, criador do célebre Discóbolo, onde as tensões do movimento são exploradas com maestria e realismo. A seguir vem Fídias, que levou a estatuária grega ao seu primeiro momento de real esplendor. Foi autor de estátuas colossais como o Zeus de Olímpia e a Atena Parthenos, imagens dotadas de grande majestade, das quais hoje subsistem infelizmente apenas cópias menores ou descrições. Mais dinâmicas são as esculturas do pedimento do Partenon. Outras obras atribuídas a ele ou à sua escola são o Apolo de Kassel e a Atena Lemnia. Dentre seus seguidores estão Alcamenes e Kresilas. Contemporâneo de Fídias foi Policleto, de fama igualmente vasta, criador de um cânone de proporções ideais do corpo humano que encontrou expressão magnífica em obras como o Doríforo, o Discóforo e o Diadúmeno.


Afrodite Braschi, uma das várias cópias conhecidas da Afrodite de Cnido, de Praxiteles, c. 345 a.C., Gliptoteca de MuniqueAtenas caiu em 404 a.C., no fim da Guerra do Peloponeso, e conseguiu contudo preservar sua influência cultural por mais algum tempo, mas instaura-se uma certa confusão política na Grécia e novos valores são introduzidos na sociedade, e o ideal aristocrático de vida e educação é posto em xeque pela burguesia que vinha enriquecendo mas era bem menos culta e baseava seu julgamento em critérios antes de tudo emocionais e estéticos. Assim prolifera uma arte que privilegia aspectos puramente plásticos e sensoriais, o retrato se populariza e a dissolução de diversos tabus possibilita a abordagem de temas antes vedados, como o nu feminino. O cidadão, enfim, assume a dianteira em relação ao Estado como o principal patrocinador da arte. Reflexo destas mudanças, que em arte definem o chamado baixo classicismo, ou classicismo tardio, é o deslocamento dos deuses mais antigos e austeros, como Hera e Atena, em favor dos olímpicos jovens e dinâmicos, como Apolo, Ártemis e Afrodite.

Eufranor adaptou o cânone de Policleto e representa a evolução da escultura grega em direção ao uma escola mais realista, sensual e delicada, de cariz mais humano e menos augusto e idealizante, que teria grandes expoentes em Praxiteles, Lísipo e Escopas já no século IV a.C., e que apontariam o caminho para o desenvolvimento do estágio helenizante a seguir. Praxiteles, o mais famoso deles, foi o primeiro a introduzir o nu feminino em escala natural com a sua Afrodite de Cnido, uma das criações mais influentes e celebradas do classicismo grego, definindo um cânone de proporções para a figura feminina. Hermes com o infante Dionísio e o Apolo Sauróctono são outras de suas obras conhecidas.

Lísipo, de longa carreira, chegou a ser o escultor predileto de Alexandre Magno, e introduziu, segundo Plínio, um novo cânone de proporções, com uma figura mais alongada, de cabeça menor, que seria importante no período do Helenismo. Seu Apoxiômenos é tido como o primeiro exemplo de escultura completamente onidirecional, ou seja, satisfatória em todos os ângulos em que é apreciada.[18] Seu discípulo Carés de Lindos foi o autor do célebre Colosso de Rodes, uma das Sete Maravilhas do mundo antigo. Escopas participou da decoração escultórica do Mausoléu de Halicarnasso, outra das Sete Maravilhas, e celebrizou-se entre seus contemporâneos pelo intenso dramatismo de suas figuras. Outro grande representante desta fase é Leocarés, tido como autor da Diana de Versalhes e do paradigmático Apolo Belvedere, considerado pelos neoclassicistas do século XIX a mais perfeita expressão do ideal de equilíbrio e majestade típicos do alto classicismo grego, influenciando gerações de artistas.

No campo da escultura funerária e nos relevos abandona-se o caráter impessoal e são retratados grupos familiares, bem como indivíduos isolados, de tocante sensibilidade, em atitude de luto sereno por seus parentes falecidos. São notáveis a Estela de Hegesos, de c. 410 a.C., os frisos do templo de Atena Niké na Acrópole de Atenas, a Estela do caçador, atribuída a Escopas, e a Estela de Dexileu, c. 394 a.C., hoje no Museu de Kerameikos.



Laocoonte e seus filhos, c. 200 a.C., Museus Vaticanos


PERÍODO HELENÍSTICO
A transição para o Período Helenístico (c. 323-27 a.C. ) ocorreu ao longo do século IV a.C., seguindo as conquistas de Alexandre Magno, que levou a arte grega até a Índia. Esta incursão pela Ásia fez com que numerosos artistas entrassem em contato com as culturas locais e delas recebessem influências, ganhando em diversidade de temas e formas de tratamento. Ao mesmo tempo se estabeleceram novos centros de produção, notadamente em Alexandria e Antióquia, além de Pérgamo. Neste período o centro de gravidade se desloca para o Oriente, e surge um estilo internacional que é uma fusão polimorfa de uma variedade de influências. Os artistas passam a viajar a trabalho para diversos locais incrementando o intercâmbio de conhecimentos e valores estéticos e culturais, e os filósofos sofistas e estóicos introduzem uma reformulação do antigo conceito de arete, já não mais baseada em privilégios de classe ou de nascimento e mais ligada a valores puramente humanos e racionais, refletido a sociedade profana, eclética e capitalista de então.


Laocoonte e seus filhos, c. 200 a.C., Museus VaticanosO Período Helenístico na escultura grega é dos mais complexos e menos compreendidos, em função da multiplicidade de influências que se cruzam e da ausência de um único centro difusor. Em seu início continua a grande tradição do auge do classicismo, criando obras perfeitamente modeladas em todos os ângulos, mas já estudando efeitos de transparência no vestuário, aproveitando os jogos de luz com finalidades estéticas e expressivas, e enfatizando a variedade de posturas e sentimentos, criando um repertório de formas inteiramente novo e que muitas vezes tinha um caráter historicista, resgatando elementos de períodos anteriores. Os escultores já não se sentiam obrigados a retratar o ideal. São introduzidos temas como o sofrimento, o sono, a morte e a velhice, que ofereciam formas e expressões ainda pouco exploradas.

Busca-se acima de tudo expressividade e "atmosfera", especialmente flagrantes nos retratos, onde mais que a exatidão da fisionomia é desejada a representação do caráter ou vida interior do personagem. Extraordinária na produção helenística é Maronis (ou A velha bêbada), com cópias em Munique e em Roma, que mostra sem reservas uma mulher envelhecida, cheia de rugas e com face contorcida, agarrada a um vaso de vinho. Outra obra impressionante é o Laocoonte, obra conjunta de Agesandro, Polidoro, e Atenodoro, envolvido em serpentes junto com seus filhos, num momento de desespero e com a musculatura em extremos de tensão.

Em torno da metade dessa fase Pérgamo se destaca dentre os novos centros produtores de escultura, com autores como Phyromachos, Niceratos, Epígonos e Xenócrates produzindo uma série de obras cuja expressividade e dinamismo poderiam ser chamados de "barrocos". Estas características encontrariam um ponto alto no grandioso Altar de Pérgamo, decorado com uma Gigantomaquia de 100 m de extensão. O estilo Pergamenho, contudo, não se confinou à cidade cujo nome emprestou, difundindo-se para toda a Ásia Menor, e tampouco em Pérgamo ele foi cultivado com exclusividade, havendo ali outras escolas mais classicistas. Por volta do século II a.C. outro forte elemento modificador vem de Roma, por constituir um novo e grande mercado consumidor de estatuária, com preferências próprias. Absorveram muito da tradição grega e por sua vez influenciaram-na em direção de uma recuperação do classicismo, mas introduzindo temas como crianças, animais e pessoas comuns.

Outro fator importante para a divulgação do estilo foi o grande crescimento nessa fase da demanda por estatuária, em virtude das numerosas cidades helenísticas que foram sendo fundadas no Egito, Síria e Anatólia, e que precisavam de imagens de deuses para o culto nos templos, ou de heróis para seus monumentos. Essa expansão no mercado deu lugar a certa padronização e alguma queda na qualidade geral, embora os grandes mestres continuassem a exercer o ofício com vigor e habilidade técnica impecável, como provam a Vitória de Samotrácia, a Vênus de Milo e o já mencionado Laocoonte, todas dos séculos II ou I a.C. De fato, comparando-se a habilidade técnica dos escultores clássicos com os helenistas, é obrigatório conceder a estes a primazia, mesmo que o valor estético de sua produção seja algumas vezes questionado. Mas eles conseguiram um maior entendimento da anatomia e resultados mais refinados no acabamento de superfícies, e estes conhecimentos mais profundos foram aplicados seletivamente e com agudo senso de adequação para cada tema abordado.
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