sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias



Dona Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias, cujo nome completo em italiano era Teresa Cristina Maria Giuseppa Gasparre Baltassarre Melchiore Gennara Rosalia Lucia Francesca d'Assisi Elisabetta Francesca di Padova Donata Bonosa Andrea d'Avelino Rita Liutgarda Geltruda Venancia Taddea Spiridione Rocca Matilde di Borbone-Due Sicilie (Nápoles, 14 de março de 1822 - Porto, 28 de dezembro de 1889), foi uma princesa do reino das Duas Sicílias, do ramo italiano da Casa de Bourbon, e a quarta e última imperatriz-consorte do Brasil, esposa do imperador Dom Pedro II. Foi a mãe das princesas Isabel e Leopoldina.

Era filha de Francisco de Bourbon-Duas Sicílias, membro do ramo italiano da Casa de Bourbon - à época, príncipe herdeiro do reino das Duas Sicílias e, mais tarde, rei Francisco I (Francesco Gennaro Guiseppe Saverio Giovanni Battista di Borbone-Due Sicilie) - e de Maria Isabela de Bourbon, Infanta de Espanha (María Isabel de Borbón y Borbón), segunda esposa de Francisco I.

Como princesa real, teve uma educação esmerada: belas artes, música, canto, bordado, francês e religião. Possuía natureza sensível, inteligência apurada e inclinada naturalmente ao culto da arte, tendo sido educada e instruída pelo professor Monsenhor Olivieri.

Estudiosa da cultura clássica, interessou-se especialmente pela arqueologia e as descobertas que estavam sendo realizadas, na sua época, em Pompéia e Herculano. A jovem princesa financiou e conduziu as escavações em Veio, um sítio Etrusco, 15 km ao norte de Roma. Esta é a razão pela qual, anos mais tarde, já casada com D. Pedro II, Dona Teresa Cristina ser conhecida como "a imperatriz arqueóloga".

Não sabemos a razão do fato de Teresa Cristina ser levemente claudicante (manca). Pode ser que a causa tenha sido uma queda no sítio arqueológico, ou um problema congênito pré existente. O certo é que, devido a sua deficiência, ela ocupava a maior parte do tempo com seus estudos, a literatura e as artes, ao contrário de outras princesas, que apreciavam os bailes e as danças. Os biógrafos comentam a sua existência modesta, sem nenhum aparato, no velho Palácio Chiaramonti.


Em 1842, assim que D. Pedro II atingiu 18 anos, o influente Pedro de Araújo Lima, ministro do Império, enviou à Europa Bento Silva Lisboa, um alto funcionário da corte, seu subordinado direto, que foi o encarregado de tratar do casamento de Dom Pedro II.

Várias tentativas foram realizadas em busca de uma esposa, tendo sido cogitadas D. Maria, arquiduquesa de Saxe, princesa Alexandrina, filha do rei da Baviera, infanta Luísa, prima da rainha da Espanha, na Áustria e até na Rússia, mas não havia muitas princesas a quem fosse permitido morar no Brasil. Além do mais, para os padrões da época, o imperador era considerado "pobre" (o Brasil havia gasto muito dinheiro com a Guerra da Cisplatina e as agitações do Período Regencial), não podendo almejar casamento com uma princesa de primeira linhagem.

Após uma grande procura e negociações diplomáticas, no dia 20 de maio de 1842 foi assinado em Viena o contrato de casamento entre a Princesa Teresa Cristina Maria e D. Pedro II. A noiva era 4 anos mais velha que o imperador e vinha de um Estado sem grande expressividade. A celebração do matrimônio deu-se por procuração, em Nápoles 30 de maio de 1843. Em 1º de julho do mesmo ano, na Capela Palatina do Palácio Chiaramonti, sua mão foi entregue ao Imperador Dom Pedro II na pessoa do embaixador brasileiro, o Sr. José Alexandre Carneiro Leão (Visconde de São Salvador de Campos), pelo príncipe de Cila, ministro e secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, na qualidade de delegado de Sua Majestade o rei das Duas Sicílias.

Ainda em 1842, Dom Pedro enviou a Nápoles uma frota que deveria trazer a imperatriz.

Durante a viagem, Teresa Cristina demonstrou suas virtudes, pois além de acompanhar com atenção um doente a bordo, estipulou que, a cada dia, um dos navios da frota destacasse um de seus oficiais para jantar com ela.

Chegou ao Brasil no dia 3 de setembro de 1843, às 5 horas e 35 minutos, com o céu escuro devido a chuvas e ventos fortes, a bordo da fragata Constituição na Fortaleza de São João (no atual Bairro da Urca - Rio de Janeiro), acompanhada pelo irmão, o príncipe Luís, Conde de Áquila, que se casaria com Dona Januária, irmã do Imperador.

O desembarque ocorreu em 4 de setembro sendo que a Fragata Constituição foi precedida pela Corveta Euterpe, que anunciou aos brasileiros a chegada da imperatriz. Entraram no porto, logo depois a Corveta Dois de Julho, e mais uma nau e três fragatas napolitanas).

Há quem afirme que, ao conhecer a esposa, com quem casara por procuração, D. Pedro teria cogitado em pedir a anulação do matrimônio por conta de seus minguados atributos físicos: era baixa, manca e feia. Alguns cronistas relatam que o casamento só teria se consumado um ano depois e que o imperador só não remeteu a esposa de volta à sua terra natal graças à intervenção de D. Mariana Carlota de Verna Magalhães, Condessa de Belmonte e ama do jovem monarca.

A imperatriz do Brasil
Apesar destes percalços iniciais, o casamento duraria 46 anos. D. Teresa era dotada de raro senso de cordialidade. Discreta, caridosa e inteligente, conquistou a estima do marido graças ao interesse comum em assuntos culturais. Na frota que a trouxe ao Brasil fez embarcar artistas, músicos, professores, botânicos e outros estudiosos. Aos poucos, enriqueceria a vida cultural e científica brasileira, mandando vir de sua terra as primeiras preciosidades artísticas recuperadas de Herculano e Pompeia, enviadas por seu irmão, Fernando II. Boa cantora e boa musicista, alegrava o palácio com saraus constantes.

"Traço comum entre os napolitanos, a voz bonita e educada da imperatriz seria mencionada por um diplomata francês, citado por Afonso de Taunay no livro No Brasil de 1840: “Em fevereiro de 1844, um diplomata em trânsito, Jules Itier, visitando a Quinta da Boa Vista, parou, espantado, junto às janelas do Paço. ‘Era uma voz feminina, admiravelmente bem timbrada, que emitia as notas da famosa ária rossiniana Una voce poco fá’. Um bom piano acompanhava a cantora. Quis aplaudir e conteve-se. Porque surgiu, no balcão, a própria imperatriz”.

A imperatriz possuía dotes artísticos que nem todos conheciam e hoje são pouco comentados. Enquanto cuidava de suas filhas em um dos jardins do Palácio de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, denominado então Jardim das Princesas, Dona Teresa Cristina demonstrou o seu conhecimento e talento para o mosaico. Utilizou-se de conchas, recolhidas nas praias do Rio de Janeiro, e cacos das peças de serviço de chá da Casa Imperial que ela utilizou com argamassa para recobrir os bancos, tronos, fontes e paredes do Jardim das Princesas.

Pouco utilizado entre nós, o mosaico é denominado Arte Musiva (tanto mosaico quanto museu e música vêm do latim musa). Teresa Cristina foi precursora deste tipo de arte, coisa pouquíssimo divulgada pelos historiadores e especialistas. Muitos anos depois Antoni Gaudí e Josep Maria Jujol "revolucionaram" o mundo das artes com um trabalho semelhante ao que Dona Teresa Cristina já realizava em São Cristóvão, tendo, no entanto, muito mais reconhecimento do que ela. Atualmente é muito difícil ver esses trabalhos, pois esta área do museu está fechada ao público devido a atos de vandalismo perpetrados por visitantes que recolhiam pedaços, lascas e até cacos inteiros como lembrancinhas do passeio a Quinta da Boa-Vista. Existe publicação avulsa de 1997 realizada pela arqueóloga Maria Beltrão, do Museu Nacional, a este respeito, citada por inúmeros domínios na internet.

Pedro II foi um marido cordial, embora tenha sido infiel em várias ocasiões, especialmente por conta de seu longo romance com Luísa Margarida de Portugal e Barros, Condessa de Barral e Pedra Branca.

Apesar das aventuras extra-conjugais - bastante comuns no meio aristocrático da época, onde os casamentos eram tratados como assunto de Estado - o casal imperial viveu sempre em harmonia doméstica, a qual ficava mais patente quando estavam no Palácio de Petrópolis, construído entre os anos de 1845 e 1862.

Em sua residência de verão, os soberanos podiam dar-se ao luxo de levar uma existência prosaica, onde o protocolo estava suspenso e o cotidiano era virtualmente idêntico ao das grandes famílias de fazendeiros da época: acordavam cedo, almoçavam às dez horas e jantavam às dezesseis. Banhavam-se, cada um na própria alcova, às dezessete horas, e ceavam entre as dezenove e as vinte.


Casal imperial com as filhas.A imperatriz cuidava ela mesma de parte dos jardins, especialmente as roseiras e, algumas vezes, cozinhava. Teresa Cristina era napolitana e, em assim sendo, acredita-se que tenha sido ela a responsável pela introdução das massas no cardápio da família imperial. Muito provavelmente, o primeiro prato de macarrão comido em terras brasileiras tenha sido preparado pela própria imperatriz.

Em 1864 um evento demonstra a relativa "liberalidade" do casal. O imperador havia tratado, através de seus ministros, o casamento da princesa Isabel, herdeira do trono, com o duque Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota, o segundo filho de Augusto de Saxe-Coburgo-Gota e da princesa Clementina de Orléans; ao mesmo tempo, o primo deste, Luís Filipe Maria Fernando Gastão de Orléans e Saxe-Coburgo-Gota (Louis Phillipe Marie Ferdinand Gaston d'Orléans et Saxe-Cobourg et Gotha), conde d'Eu, foi prometido à princesa Leopoldina.

Quando da chegada dos dois jovens, as princesas perceberam que deveria ocorrer uma troca, pois cada uma delas havia se encantado pelo pretendente da outra, e imediatamente solicitaram aos pais que a troca fosse realizada. Tanto D.Pedro quanto D. Teresa Cristina, favoráveis a que os casamentos fossem motivados não apenas pelas questões dinásticas, mas também pelos afetos - até porque, no seu próprio caso, havia ocorrido um choque inicial - consentiram imediatamente.

Últimos anos do Império
Um episódio bastante interessante, que pareceria até retirado de algum romance policial da época, repleto de ação e com grande repercussão junto à imprensa, desenrolou-se em 1882, quando foram roubadas as joias da imperatriz. O acontecimento foi coberto pelos principais jornais da corte, merecendo inclusive vários artigos de José do Patrocínio, e foi recentemente estudado por Ricardo Japiassu Simões, sendo também descrito por Bárbara Simões Daibert e Robert Daibert Júnior:

"Na madrugada de 17 para 18 de março de 1882, um ladrão entrou sorrateiramente no Palácio de São Cristóvão, residência da família imperial, e surrupiou de dentro de um armário todas as jóias da imperatriz Teresa Cristina e de uma de suas filhas, a princesa Isabel. O tesouro foi avaliado em 400 contos de réis - verdadeira fortuna na época. Mas o escândalo que se seguiu, cheio de lances mirabolantes, deu-se menos pelo valor do furto do que pelo seu potencial conteúdo político.(...) A sete anos do golpe militar que proclamou a República, quando a abolição da escravatura e outras questões candentes eram debatidas em todas as esquinas da Corte por contendores apaixonados, o assunto não poderia deixar de se transformar, de fato, num prato cheio para a oposição. (...) Este seria apenas o começo de uma eletrizante novela, (...) que a imprensa soube explorar de maneira tão sensacionalista quanto impiedosa. Pela primeira vez no Império, a roupa suja da monarquia era lavada no meio da rua, para desgosto de uma família que cultivava a discrição como um dos seus principais predicados. As joias roubadas haviam sido usadas dias antes, numa cerimônia no Paço da Cidade. Após o baile que comemorou os 60 anos de Teresa Cristina, o casal imperial havia seguido para Petrópolis. Antes disso, os ornamentos de valor foram depositados numa caixa, entregue a Francisco de Paula Lobo, funcionário do serviço particular, que deveria guardá-la em segurança. Como o criado não encontrou a chave do cofre, foi, em companhia de outro empregado, José Virgílio Tavares, até os aposentos imperiais e guardou a caixa dentro de um armário comum, de onde as joias desapareceram.(...)Dias depois, uma carta anônima apontou a localização das joias. Estavam dentro de latas de biscoito, enterradas em meio a um lamaçal, nos fundos da casa do suspeito. Com a ajuda do próprio Paiva, policiais cavaram o chão e encontraram o tesouro composto de dezenas de adornos raros e valiosíssimos, entre eles pulseiras, broches, comendas e colares de ouro incrustados de centenas de pérolas, brilhantes e outras pedras preciosas.(...)prevalece a imagem de uma Teresa Cristina passiva e silenciosa, embora se soubesse que ela era muito ciumenta e, como uma mulher comum, não poupava a pessoa do imperador nos seus ataques de fúria. Teresa Cristina chegava a dar beliscões no marido quando, nos camarotes dos teatros, percebia que ele estava observando, de binóculos, as mulheres do palco e da plateia. Teresa Cristina parecia representar o papel de “boa mãe dos brasileiros”: indignada, mas calada, pacífica, amável, religiosa, traída, e ainda por cima...roubada.

Dona Teresa Cristina, usando novamente as suas joias, acompanhou seu esposo o imperador ao Baile da Ilha Fiscal, último baile da monarquia, no dia 9 de novembro de 1889:

"Dançou-se muito no baile da Ilha Fiscal, mas o que os convidados não imaginavam, nem o imperador D. Pedro II, é que se dançava sobre um vulcão. À mesma hora em que se acendiam as luzes do palacete para receber os milhares de convidados engalanados, os republicanos reuniam-se no Clube Militar, presididos pelo tenente-coronel Benjamin Constant, para maquinar a queda do Império. "Mais do que nunca, preciso sejam-me dados plenos poderes para tirar a classe militar de um estado de coisas incompatível com sua honra e sua dignidade", discursou Constant na ocasião, tendo como alvo justamente o Visconde de Ouro Preto. Longe dali, ao lado da família imperial, o visconde desmanchava-se em sorrisos ao comandar seu suntuoso festim. A família imperial chegou ao cais pouco antes das 10 horas. D. Pedro II, fardado de almirante, a imperatriz Teresa Cristina e o príncipe D. Pedro Augusto embarcaram primeiro. Quinze minutos depois foi a vez da princesa Isabel e do conde D’Eu. Uma vez no palácio, foram conduzidos a um salão em separado, onde já se achavam reunidos membros do corpo diplomático estrangeiro oficiais e alguns eleitos da sociedade carioca. O guarda-roupa da imperatriz não chegou a causar impressão especial entre os convidados - um vestido de renda de chantilly preta, guarnecido de vidrilhos. A toalete da princesa Isabel, no entanto, causou exclamações de admiração pelo luxo e pela beleza. Ela portava uma roupa de moiré preta listada, tendo na frente um corpinho alto bordado a ouro. Nos cabelos, carregava um diadema de brilhantes."


Morte da imperatriz deposta
D. Teresa faleceu em condições dramáticas, vítima de uma síncope cardíaca poucos dias depois do golpe militar que instaurou a República no Brasil, em 15 de novembro de 1889.

O historiador Max Fleiuss afirma: “Costuma-se dizer que o dia 15 de novembro foi uma revolução incruenta, feita com flores. Houve, porém, pelo menos uma vítima: a Imperatriz”.

Durante toda a viagem marítima que conduziu a Família Imperial Brasileira rumo ao exílio, D. Teresa esteve em estado de choque, entorpecida pelo tratamento rude que os republicanos dedicaram à dinastia deposta. Ao embaixador da Áustria presente no embarque, perguntou: "Que fizemos para sermos tratados como criminosos?" No desembarque em Portugal retirou-se para um hotel simples, na cidade do Porto, onde sentiu-se mal. Um médico chamado às pressas nada pôde fazer. Suas últimas palavras teriam sido: "Brasil, terra abençoada que nunca mais verei". Foi sepultada no Panteão de São Vicente de Fora, de onde seus restos foram trasladados para o Mausoléu Imperial da Catedral de Petrópolis.

Os jornais europeus comentaram a morte da Imperatriz. Le Figaro escreveu em 29 de dezembro de 1889: “A Europa saudará respeitosamente esta Imperatriz morta sem trono, e dir-se-á, falando-se dela: sua morte é o único desgosto que ela causou a seu marido durante quarenta e seis anos de casamento”.

http://pt.wikipedia.org/

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