sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Vitória Melita de Saxe-Coburgo-Gota




A Grã-Duquesa Vitória Feodorovna da Rússia, nascida Princesa Vitória Melita (25 de Novembro de 1876 – 2 de Março de 1936), era um membro da Família Real Britânica, uma neta da Rainha Vitória. Vitória detinha os títulos de Grã-Duquesa de Hesse (1894-1901) e Grã-Duquesa Viktoria Feodorovna da Rússia.

Vitória escandalizou as famílias reais da Europa com o seu divórcio e segundo casamento nos inícios do século XX.

Vitória nasceu a 25 de Novembro de 1876 no Palácio de Santo António em Malta, daí o seu segundo nome, Melita. O seu pai, que esteve na ilha de malta como oficial da Marinha Real, era o Príncipe Alfredo, Duque de Edimburgo, o segundo filho mais velho da Rainha Vitória e do Príncipe Alberto. A sua mãe era Maria Alexandrovna da Rússia, filha de Alexandre II da Rússia e da Imperatriz Maria de Hesse. Como neta da monarca britânica, ela recebeu o tratamento de Sua Alteza Real, a Princesa Vitória de Edimburgo. A sua família tratava-a por Ducky. Quando nasceu, estava em 10º lugar na linha de sucessão do trono britânico.

“Ducky” tinha um temperamento difícil, de acordo com a sua irmã mais velha Maria, Rainha da Roménia. Quando eram pequenas, Vitória era tímida, séria e sensível e incapaz de ser desonesta. Segundo a irmã, “esta criança apaixonante era muitas vezes incompreendida”. A sua mãe criou as crianças para ignorarem a doença e manterem-se fisicamente activas. Para ajudar Vitória a ultrapassar a sua timidez, Maria obrigou-a a passar todas as tardes a andar à volta de um círculo de cadeiras e fingir que estava a falar com pessoas invisíveis sob a orientação da sua mãe. A sua mãe também forçava as crianças a comer tudo o que lhes punham à frente, independentemente do seu sabor.

O pai torna-se Duque de Saxe-Coburgo e Gota
Como filho do Príncipe Alberto de Saxe-Coburgo e Gota, o pai de Vitória estava na linha de sucessão do ducado de Saxe-Coburgo e Gota. Alfredo tornou-se herdeiro do ducado quando o seu irmão mais velho, e tio de Vitória, o Príncipe de Gales (mais tarde Eduardo VII), renunciou aos seus direitos de sucessão. Subsequentemente, a família mudou-se para Coburgo na Alemanha em 1889. A sua mãe pró-germânica começou imediatamente a “germanizar” as suas filas ao contratar novas governantas, comprar-lhes roupa mais neutra e a integra-las na Igreja Luterana Alemã, apesar de estas terem sido criadas no seio da Igreja Anglicana. As crianças revoltaram-se e algumas das novas restrições foram suavizadas.

Interesses românticos
A adolescente Vitória era uma rapariga “alta, morena e com olhos violeta… com o porte de uma Imperatriz e o espírito alegre de uma Maria-rapaz,” de acordo com um observador. Vitória “tinha um queixo demasiado pequeno para ser convencionalmente bela,” na opinião de um dos seus biógrafos, mas “tinha uma boa figura, olhos azuis profundos e uma tez escura.” Em 1891, Vitória viajou com a sua mãe para assistir ao funeral da Grã-Duquesa Alexandra Georgievna da Rússia, a esposa do irmão da sua mãe, o Grã-Duque Paulo Alexandrovich. Foi aí que Vitória conheceu o seu primo directo o Grão-Duque Kirill Vladimirivich. Apesar de os dois se sentirem muito atraídos um pelo outro, a mãe de Vitória estava reticente em permitir que a sua filha se casasse com ele já que a Igreja Ortodoxa Russa não permite o casamento de primos directos.

Ela também suspeitava da moralidade dos homens da família Romanov. Quando as suas filhas adolescentes se impressionavam com a beleza dos seus primos, a sua mãe dizia-lhes, “Não sabiam que os vossos primos, que pareciam tão charmosos, também estavam a beijar as criadas atrás da porta?

Pouco depois de a sua irmã Maria se ter casado com o Prícipe Fernando da Roménia, começou uma busca para encontrar um marido apresentável para Vitória. A Rainha Vitória reparou que Vitória se dava bem com o seu primo, o Príncipe Ernesto Luís de Hesse, o herdeiro do trono do ducado de Hesse e Rhine. A Rainha Vitória queria muito que os seus dois netos se casassem. Contudo, tanto Vitória como Ernesto estavam reticentes; Vitória tinha-se encontrado novamente com Kirill em São Petersburgo e tinha-se apaixonado.


Eventualmente, Vitória e Ernesto cederam à pressão das suas famílias e acabaram por se casar a 9 de Abril de 1894 no Schloss Ehrenburg em Coburgo. O casamento foi um grande evento, já que contou com a presença de grande parte das famílias reais europeias. Vitória recebeu o título de Grã-duquesa de Hesse e do Reno. O seu casamento também ganhou mais significado por ter sido o palco do pedido de casamento do futuro Czar Nicolau II a Alix, a irmã mais nova de Ernesto.

Vitória e Ernesto tiveram dois filhos juntos, uma filha, a Princesa Isabel de Hesse (que recebeu a alcunha de Ella), nascida a 11 de Março de 1895 e um nado-morto que não recebeu nome, nascido a 25 de Maio de 1900.

O casamento de Vitória e Ernesto foi infeliz. Vitória desesperava com a falta de atenção do seu marido para com ela, enquanto este se dedicava inteiramente à sua filha, que adorava. Isabel, que se parecia fisicamente com a mãe, preferia a companhia de Ernesto à de Vitória. Ambos gostavam de se entreter e davam frequentemente festas em sua casa para os seus amigos jovens. A sua regra era que todas as pessoas com mais de 30 anos eram “velhas e excluídas”. Nestas festas, a formalidade era dispensada e os convidados eram tratados pelas suas alcunhas e encorajados a fazer o que lhes apetecesse. Vitória e Ernesto mantinham no seu circulo de amigos artistas progressivos e intelectuais assim como todos os que gostassem de se divertir. O primo de Vitória, o Príncipe Nicolau da Grécia e da Dinamarca recordou, mais tarde, uma estadia em casa da prima como “a mais alegre e divertida festa em casa em que alguma vez participei”.

Contudo, Vitória não estava assim tão entusiasmada com o seu papel na sociedade. Ela evitava responder a cartas, cancelava visitas aos seus conhecidos mais antigos por não gostar da sua companhia, e só falava com quem lhe agradava nos eventos oficiais ignorando as pessoas de estatutos superiores que achava aborrecidas. A falta de atenção de Vitória para com os seus deveres provocava acesas discussões com Ernesto. O jovem casal tinha discussões barulhentas que, muitas vezes, se tornavam físicas. A volátil Vitória gritava, atirava chávenas, destruía porcelana ao atira-la contra a parede e atirava tudo o que tinha à mão a Ernesto durante as suas “batalhas”. Vitória aliviava a sua tensão através do seu amor por cavalos, dando grandes passeios no seu cavalo, Bogdan, pelo campo. Quando foi à Rússia, na ocasião da coroação de Nicolau II, a sua paixão por Kirill cresceu ainda mais. Ela gostava de namoriscar com ele nos bailes e nas celebrações que marcaram a coroação.

O casamento com Ernie sofreu um golpe duro em 1897, quando Vitória regressou a casa depois de uma visita à sua irmã, a Rainha Maria da Roménia, ela supostamente apanhou o seu marido na cama com um criado. Ela não o acusou em público, mas contou o sucedido a uma sobrinha algumas décadas depois. A Rainha Vitória ficou desapontada quando ouviu falar dos problemas do casamento, mas recusou permitir o divórcio dos seus netos devido à filha deles.

Os esforços para fazer o casamento funcionar não resultaram e, quando a Rainha Vitória morreu em Janeiro de 1901, a oposição ao fim do casamento terminou. O Tribunal Supremo de Hesse dissolveu a união a 21 de Dezembro de 1901. Ernesto, que no principio tinha resistido à ideia do divórcio, aceitou o facto de que era a única solução possível. “Agora que estou mais calmo, vejo a impossibilidade absoluta de continuar a viver uma vida que a estava a matar e a deixar-me quase louco,” escreveu Ernesto numa carta à sua irmã mais velha, Vitória. “Manter o pensamento positivo e um sorriso quando a ruína nos olha mesmo nos olhos e a miséria nos parte o coração em pedaços é uma luta inútil. Só tentei pelo bem dela. Se não a amasse tanto, já tinha desistido há muito tempo.” A sua irmã respondeu-lhe, mais tarde, que não estava tão surpreendida com o divórcio como Ernesto. “Apesar de ambos terem feito o seu melhor para que o casamento fosse um sucesso, foi um falhanço,” escreveu ela. “As suas personalidades e temperamentos eram demasiado errados um para o outro e já tinha notado como estavam cada vez mais afastados.” O divórcio do Grão-duque e Grã-duquesa de Hesse causou escândalo nos círculos Reais da Europa. O Czar Nicolau II escreveu à sua mãe que “até a morte teria sido melhor do que a desgraça de um divórcio.”

Depois do divórcio, Vitória foi viver com a sua mãe na casa dela na Riviera francesa. Ela e Ernesto partilhavam a custódia de Isabel que passava seis meses com cada progenitor. Isabel culpou Ducky pelo divórcio e esta teve uma grande dificuldade a reparar a relação com a sua filha. Ernesto escreveu nas suas memórias que Isabel se escondia debaixo do sofá a chorar antes das visitas da sua mãe. Ernesto tentou convence-la que Vitória também a adorava. Isabel respondeu, “a mamã diz que me adora, mas tu adoras-me mesmo.” Ernesto permaneceu calado e não corrigiu a ideia da criança. Isabel morreu com 8 anos de febre tifóide em Novembro de 1903, durante uma visita ao Czar Nicolau II e à sua família na sua residência na Polónia. O médico aconselhou a família do Czar a avisar a mãe da criança da sua doença, mas a Czarina atrasou o envio do telegrama. Vitória recebeu a notícia da morte da sua filha quando se estava a preparar para ir à Polónia para estar ao seu lado. No funeral de Isabel, Vitória retirou a sua Ordem de Hesse, um medalhão, e pô-lo no caixão da sua filha como “um gesto final de ruptura com a sua antiga casa.” A sua acção foi criticada pelo observador Conde Von Bülow, que a considerou “melodramática” e mostrou mau gosto.

Semanas após o funeral da criança, Vitória ficou furiosa com a recusa do Czar em permitir o casamento da sua irmã mais nova, Beatriz, com o seu primo directo o Grão-duque Miguel Alexandrovich da Rússia. A irmã do Czar, Xenia, escreveu no seu diário no dia 21 de Dezembro de 1903, que tinha recebido uma carta “terrível” de Vitória na qual esta fazia acusações do comportamento “feio e desonrável” e, Xenia, achou, erradamente, que Beatriz nunca tinha tido esperanças de casar com Miguel. Beatriz chorou, perdeu peso e ficou tão doente que foi enviada para o Egipto para recuperar.


Segundo casamento

Vitória com o seu segundo marido, Cyril, e a filha MariaDepois do divórcio de Vitória de Ernesto, a irmã deste a Czarina Alexandra Feodorovna, persuadiu o seu marido, Nicolau II, a exilar Cyril para o Oriente. Os pais de Cyril, o Grão-duque Vladimir Alexandrovich da Rússia e a Grã-duquesa Maria Pavlovna, também tentaram desencorajar a relação. A Grã-duquesa Maria Pavlovna pediu a Cyril para manter Vitória como amante e casar-se com outra mulher. Mais tarde, na Guerra Russo-Japonesa de 1904, Cyril sobreviveu a um ataque à frota russa e regressou a Moscovo como herói de guerra. A família do Czar deu-lhe permissão para deixar a Rússia, e ele assim o fez indo para Coburgo para estar com Vitória. A determinação para se casar com Vitória aumentou muito quando escapou por pouco à morte. “Para aqueles cuja nuvem da morte lhes passou, a vida tem um novo significado,” escreveu Cyril nas suas memórias. “É a luz do dia. E agora via perfeitamente o alcance do sonho da minha vida. Nada me iria afastar dele agora. Já tinha passado por muito. Agora, por fim, o futuro sorria para mim.”

Os dois casaram-se a 8 de Outubro de 1905 em Tegernsee. Foi uma cerimónia simples, com a presença da mãe de Vitória, a sua irmã Beatrice e um amigo, o Conde Adlerburg, para além de alguns criados. O tio do casal, o Grão-duque Alexei Alexandrovich da Rússia foi convidado, sem lhe ser dito o motivo do convite, mas ele só chegou depois da cerimónia. O Czar Nicolau II respondeu ao casamento com o deposição de Cyril de todos os seus rendimento Reais e a sua expulsão da marinha Russa. A Czarina ficou ultrajada e disse que nunca mais receberia Vitória, “uma mulher que se tinha comportado tão desgraçadamente,” ou Cyril. O casal mudou-se para Paris onde compraram uma casa nos Campos Elísios e viveram do dinheiro enviado pelos seus pais.

Vitória, que tinha amadurecido desde que passara dos 30 anos, decidiu converter-se à Igreja Ortodoxa Russa em 1907, uma decisão que agradou tanto a sua mãe como o seu marido. A primeira filha de Vitória com Cyril, Maria Kyrillovna nasceu em 1907. Ela recebeu o nome da sua avó e tinha a alcunha de “Masha”. A sua segunda filha, Kira Kyrillovna nasceu em 1909. Vitória e Cyril, que queriam um rapaz, ficaram desapontados quando tiveram uma menina, mas deram-lhe o nome do seu pai.




Grã-duquesa da Rússia

Vitória como Grã-duquesa da Rússia com o vestido da corteNicolau II foi forçado a reabilitar Cyril depois de mortes na Família Real Russa, o terem posto no terceiro lugar de sucessão do trono. Cyril e Vitória voltaram para a Rússia onde lhe foi garantido o título de Grã-duquesa da Rússia. Vitória gostava de animar os jantares e os bailes frequentados pela alta sociedade de São Petersburgo. Vitória tinha um talento artístico que aplicou na decoração da casa. De acordo com a sua irmã, a Rainha Maria da Roménia, ela decorou a sua casa de uma forma atractiva e juntou uma grande colecção de jades que arranjava de forma bonita. Ela também gostava de pintar retratos dramáticos dos amigos, tal como um que pintou de Meriel Buchanan “ajoelhada ao pé de um sarcófago coberto de rosas brancas” ou em frente de cortinados pretos com a cara escondida pelos braços. “A Ducky tinha um gosto apurado e uma paixão por remodelar as suas divisões de uma forma pouco usual e incomum,” escreveu a sua irmã Maria da Roménia. Eles tinham uma relação próxima com as suas filhas, Maria e Kira. A sua tia, Maria da Roménia disse que as duas meninas eram “duas crianças esplêndidas, bem formadas, sólidas, com um lindo cabelo e pele perfeita.”


Revolução
Quando começou a Primeira Guerra Mundial, Vitória tornou-se enfermeira da Cruz Vermelha e organizou uma unidade ambulâncias motorizadas que foi chamada “um dos serviços mais eficientes da Rússia”. Cyrill e Vitória sempre partilharam a pouca simpatia dos seus parentes para com a amizade do Czar e da Czarina com Rasputine. A Czarina acreditava que Rasputine curava os ataques do seu filho hemofílico com as suas orações. Vitória disse à sua irmã, Maria, que a Corte do Czar estava “tão limitada como um homem doente a recusar a ajuda dos médicos.”

Quando Rasputine foi assassinado em Dezembro de 1916, Vitória e Cyril assinaram a carta, juntamente com outros membros da família, que pedia ao Czar para perdoar o Grão-Duque Dmitri Pavlovich da Rússia, um dos implicados do assassínio. O Czar recusou o seu pedido. Algumas semanas depois, o Czar abdicou e o país entrou no pandemónio. Cyrill levou a sua unidade naval à Duma a 14 de Março de 1917 e jurou a sua lealdade à Duma esperando restaurar a ordem e preservar a monarquia. Foi uma acção que provocou criticas de outros membros da família, que viram a sua acção como uma traição. Vitória apoiou o seu marido e achou que estava a fazer o que estava certo. Ela também simpatizava com as pessoas que queriam reformar o governo. Vitória contou à sua irmã Maria numa carta em Fevereiro de 1917 que a sua casa estava cercada por uma multidão, “mas mesmo assim o meu coração e alma estão com este movimento de liberdade, que provavelmente neste momento está a assinar a nossa sentença de morte… Nós, pessoalmente, estamos a perder tudo, as nossas vidas mudaram de repente e ainda assim parece que estamos a liderar o movimento.”



As suas esperanças desapareceram e foram forçados a fugir para a Finlândia e, mais tarde, para Coburgo, Alemanha. O Governo Provisório autorizou a sua saída do país, mas não lhes foi permitido levar qualquer coisa de valor com eles. A jóias foram cosidas às roupas da família para que não fossem descobertas pelas autoridades. Eles entraram no comboio sem incidentes. A sua filha Kira, que tinha 8 anos na altura, recordou mais tarde que “pela primeira vez não havia tratamento Real, como carpetes, luxos especiais, etc.”

Em Agosto de 1917, em Haiko, uma propriedade de campo de um amigo na Finlândia, Vitória de 40 anos, deu à luz o seu único filho e o herdeiro da dinastia, o Grão-duque Vladimir Kirillovich da Rússia. A família permaneceu na Finlândia, um antigo Grão-ducado russo, que tinha declarado a sua independência em Dezembro de 1917. Ambos esperavam que os Brancos russos venceriam. Aos poucos foram ficando sem recursos e tiveram de suplicar por ajuda à sua família. Em Julho de 1918, Vitória escreveu à sua prima directa, Margarida, a Princesa da Suécia, a pedir-lhe para lhe enviar comida de bebé para que pudesse alimentar Vladimir. Ela estava de costas voltadas para a sua família britânica porque achava que eles não tinham feito o suficiente para ajudar os Romanov.

Ela discutiu com o seu primo Jorge V, o envio de ajuda ao Exército Branco Russo para conquistar o país. O Rei respondeu que os britânicos ajudaram o Exército Branco, mas os navios eram poucos e não parecia haver decisões consensuais entre os Brancos. Portanto o Reino Unido não apoiava uma acção militar contra São Petersburgo numa altura em que poderia ser possível acabar com os Bolcheviques. Numa carta ao Rei, Lord Acton, o embaixador britânico em Helsinquia, notou o efeito que a revolução teve em Vitória. Ela “parece mais velha e abatida e perdeu muita da sua beleza, o que não é extraordinário se considerarmos tudo o que ela passou.”

A família exilada mudou-se para Coburgo e depois para Saint-Briac em França onde permaneceram o resto das suas vidas. Quando estavam na Alemanha, Vitória mostrou interesse no Partido Nazi, que lhe apelava devido à sua posição anti-bolchevista e a sua esperança de que o movimento pudesse instaurar a monarquia na Rússia. Ela e Cyril estiveram presentes num comício Nazi em Coburgo em 1922 e Vitória doou dinheiro ao Partido. Provavelmente não estava ciente dos aspectos mais sinistros do Partido Nazi. Cyril sofreu um esgotamento nervosa em 1923 e Vitória tomou conta dele até ele voltar a ficar saudável. Ela encorajou os seus sonhos de restauração da monarquia na Rússia e de se tornar Czar. Em Saint-Briac, Cyril declarou-se oficialmente guardião do trono, em 1924. Vitória viajou aos Estados Unidos durante a década de 20. Ela continuou os seus esforços para ajudar Cyril a restaurar a Monarquia e também vendeu os seus quadros para angariar dinheiro para a sua família. Kira escreveu à sua tia Maria sobre o trabalho duro da mãe:

“A mamã está, como sempre, terrivelmente cheia de trabalho; nunca para, aparece cada vez mais. Se, pelo menos, ela tivesse uma secretária competente, mas ainda não encontrou nenhuma e faz a maior parte do trabalho. O seu quarto pequeno está completamente atolado de papéis e cartas; tal como ela diz, daqui a pouco nem vai conseguir mexer lá dentro… Ela parece tão cansada e preocupada outra vez e quando voltou da América parecia fresca…”

— '

Vitória também estava preocupada com as perspectivas de casamento das suas duas filhas. Maria, a sua filha mais velha loura e de olhos azuis, saiu ao lado da sua mãe na aparência com uma cara redonda e uma tendência para ter peso a mais e parecer mais velha do que realmente era quando ainda era adolescente. Ela era descrita como “tímida e acessível”, mas também tinha a sua cota de pequenos defeitos. Em 1924, quando tinha 17 anos, Maria visitou a sua tia Maria da Roménia e teve um namorisco com o genro da dama-de-companhia da Corte Romena. A sua prima de 15 anos, Princesa Ileana da Roménia, espalhou rumores sobre o namorisco quando Maria regressou a casa, o que resultou na relação afastada entre Maria da Roménia e Vitória. Eventualmente o conflito foi resolvido. No ano seguinte, Maria ficou noiva de um Príncipe de relativa pouca importância, Friedrich Karl, o Príncipe Herdeiro de Leiningen. Vitória estava com a sua filha quando esta deu à luz ao seu primeiro filho Emich Cyril em 1926. Ela também esteve presente no nascimento dos restantes filhos de Maria.


Vitória (1ª da direita) com o marido Cyril (esq.), a filha Maria e o filho VladimirA morena Kira, alegre e directa, era mais temperamental do que a sua irmã mais velha. Era inteligente, curiosa e interessava-se por arte, tal como a mãe, com quem trabalhou no estúdio de arte em Saint-Briac. Kira também visitava frequentemente os seus primos nas várias casas Reais e ia a muitas festas no Reino Unido. Ele tornou-se muito mais próxima da sua prima Ileana do que a sua irmã Maria, o que causou alguma preocupação a Vitória. Quando cresceu, Vladimir, o seu único filho, tornou-se bastante parecido com o seu bisavô o Czar Alexandre II. Vitória protegia demasiado Vladimir, onde recaíam todas as suas esperanças para o futuro. Ela não o deixou ir para a escola por temer pela sua segurança e porque queria que ele fosse educado como os Grão-duques Romanov antes da revolução, para tal contratou um tutor. Ela também recusou deixa-lo ser educado para uma carreira futura. Em troca da sua devoção, Vladimir amava e respeitava a sua mãe.

“Adorávamos os nossos pais e o amor deles por nós era infinito,” escreveu Vladimir depois das suas mortes. “Todas as restrições e amarguras com que tivemos de lidar ao longo dos anos, eram compensadas pelo nosso amor mútuo. Estávamos orgulhosos deles.”

— '

A cidade de férias de Saint-Briac era um dos locais preferidos dos reformados britânicos que queriam viver bem, apesar dos rendimentos limitados. Vitória fez amigos entre os britânicos assim como com franceses e outros residentes estrangeiros da vila, que gostavam de ter relações com alguém da Realeza. Apesar de Vitória dar uma impressão inicial pouco favorável, os residentes descobriram rapidamente que esta era mais acessível do que o seu marido. Os seus amigos tratavam-nos como superiores, e utilizando os seus títulos reais quando falavam com eles. Vitória gostava de organizar peças de teatro amador, entre estas, Vitória apresentou uma representação de "A Bela Adormecida" com a ajuda de um professor de ballet russo que vivia numa comunidade de vizinhos. Contudo começou a correr o rumor de que Cyril só ia a Paris para “casos amorosos ocasionais”. Vitória, que tinha devotado a sua vida ao marido, ficou devastada quando descobriu em 1933 que o seu marido tinha sido infiel, de acordo com as cartas da sua irmã Maria. Ela manteve-se inabalável para o bem dos seus filhos, incluindo o adolescente Vladimir, mas nunca conseguiu perdoar a traição de Cyril. Vitória sofreu um ataque cardíaco pouco depois de marcar presença no baptizado da sua quinta neta Methtilde, em Fevereiro de 1936. A família e os amigos chegaram, mas nada podia ser feito. Quando a sua irmã mais próxima, Maria, chegou à cabeceira da sua cama, perguntaram a Vitória se estava contente por Maria ter ido. Vitória disse, a custo, “faz a diferença toda”. Contudo, ela “afastou-se do toque de Cyril”, escreveu Maria. Ela morreu a 1 de Março de 1936. A sua irmã Maria da Roménia recordou-a numa carta após a sua morte:

“Foi tudo demasiado trágico, um fim trágico de uma vida trágica. Ela carregava a tragédia com ela – tinha olhos trágicos – sempre – mesmo quando era pequena – mas adorávamo-la enormemente, havia algo poderoso nela – ela era a nossa consciência.”

— '

Vitória foi enterrada no mausoléu da família em Coburgo, Alemanha até que os seus restos mortais foram transferidos para a Fortaleza Pedro e Paulo a 7 de Março de 1995. O seu marido tornou-se intensamente solitário após a sua morte. O casamento da sua filha Kira com Luís Fernando, Príncipe da Prússia em 1938, foi um ponto alto para Cyril, que o viu como a união de duas dinastias. Mas Cyril morreu apenas 2 anos depois da sua mulher. Apesar de ter sido infiel, Cyril ainda amava e tinha saudades da mulher de quem dependia tanto e passou os seus restantes anos a escrever memórias da sua vida juntos.

“Há tão poucos combinam numa só pessoa tudo o melhor na alma, mente e corpo,” escreveu. “Ela tinha isso tudo, e ainda mais. Poucos têm a sorte de ter uma mulher assim como companheiras da vida – Eu fui um desses privilegiados.”

http://pt.wikipedia.org

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.